quarta-feira, 25 de setembro de 2019


Faz uns dias que não passa, um dia sequer, sem que eu pense em você.
Tão pequeno se fazia tão grande, porque grande era o espaço que em meu peito te deitava e te
aninhava.

Faz uns dias que me perco olhando essa foto, onde para mim é tão nítida sua presença. Essa é a única que tenho registrada com esses olhos que carregavam um amor que só crescia.

Um amor que preenchia meu ventre, meus seios, meu humor e meu estômago, mas para além, muito além disso, preenchia minha alma com os mais profundos sentimentos de gratidão. Gratidão pelo presente que a vida tinha me confiado para cuidar e nutrir.

À medida que meus pensamentos, em silêncio e segredo, em você fluíam, o sentimento de querer que fosse visto e reconhecido cresceu também.

Não me importa o tempo que te carreguei, foi tempo suficiente para te amar imensamente e jamais esquecer, na história da minha vida, que cuidei de você até quando pude, até quando meu corpo e o seu foram capazes de suportar.

Se essa intuição era você sussurrando em meus ouvidos, aqui está, meu filho!
Você não cresce mais em meu ventre, é verdade! Mas, como amor de mãe, infinito que é, cresce dia a dia no meu coração, onde não há jamais de sair, até o dia que daqui eu parta e te encontre.



terça-feira, 24 de setembro de 2019


Para mim o resto,
de mim a sobra.
E, para nós, a lacuna do tempo,
que já sem tempo, emudece minha língua diante dos limites mesquinhos da vida.

E tudo aquilo que em segredo espero,
de tudo aquilo que foi promessa não esperar,
absorve, num súbito, as cores vibrantes do mundo,
devolvendo-as sem cor, nem brilho: composição de paisagem morta.

E a sagrada essência da vida que te iluminava,
pulsando-lhe a liberdade de ser e sentir,
aos poucos esvai-se entre os dedos, que,
 entrelaçados, soltam-se paulatinamente.

 Assim, o moinho que gira a vida se prepara para o fim de um ciclo,
sedimentando no livro sagrado dos segredos um buraco vazio e escuro,
para o qual sente que é quase hora de dar as costas,
ressoando, diante do espelho, o ensaio de um doloroso adeus.


sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Tanto me dei.
De mim tirei.
Reposta não fui.
Esvaziada fiquei.

Doce voz, ressoada de ternura, vem e diz-me que linda sou, declarando adoração pelos olhos meus.
Justo os olhos, nesses dias tão escuros, tão profundos, carregados de melancolia.
Com eles, soavam as notas das águas, no ritmo do balanço da alma às rajadas dos ventos do meu coração intranquilo.

Diante, então, do rio da tristeza, que de tempos em tempos inunda-me, tira-me do eixo, um sinal duro da vida: precioso diamante reluzindo nas águas enturvas da minha alma.
Era você que estava lá, só você, enquanto minhas águas agitadas sob o céu nublado encobriam o brilho do seu farol: luz que tantas vezes aponta-me a direção.

Perto ou distante, incansavelmente aninha meu coração, fazendo-me lembrar que, diante do sofrimento mais profundo, e da incompreensão intrínseca de um ser dotado de sensibilidade em demasia, jamais estarei sozinha.

Novamente, então, alcanço tua mão, e reconhecendo o suporte incondicional que me traz de volta à vida, seguro-a com força e meus dedos entrelaçados.
E renasço.

Jessica Fernandes.
Foz do Iguaçu, 06/09/2019.